Harmonização de Vinhos

Harmonização de Vinhos

O vinho é uma bebida que costuma nos encantar por sua complexidade e variedade de estilos, sabores e  aromas.

É difícil pensar em uma outra coisa que esteja em tantas culturas ao redor do planeta como essa bebida fascinante.

Dentre tantos encantos, talvez seja a característica gastronômica um dos seus pontos mais fortes, já que conseguimos acompanhar toda uma refeição, de diferentes pratos e sabores com diferentes tipos de vinhos. O que nos leva a pergunta: qual o papel do vinho na gastronomia?

No mundo da enogastronomia costumamos pensar que a escolha do vinho para harmonização com pratos pode resultar em três resultados: o primeiro, é a criação de uma experiência oriunda da combinação do sabor do vinho com o prato; um segundo, é a combinação perfeita onde os sabores se completam, sendo notado ambos; e o terceiro, é a incompatibilidade da combinação onde um sabor pode se sobrepor ao outro, criando uma experiência, por vezes, não agradável.

Ainda podemos pensar a harmonização por duas vias: por diferenciação, ou seja, selecionando sabores opostos que irão se complementar na boca; a segunda opção é por semelhança, onde o vinho escolhido possui características semelhantes ao prato escolhido.

Foi pensando nessa combinação, que fui convidado pelo Arthur Ouverney, proprietário do restaurante Ouverney Gastronomia, para conhecer dois novos pratos criados pela sua chef e mãe, Tereza Ouverney.

O primeiro é um medalhão de filé de avestruz ao confit de laranja, acompanhado de risoto de alho poró com maçã verde. Apenas pela descrição já podemos pensar em uma combinação que realça acidez, dulçor, uma carne com pouca gordura e um acompanhamento cremoso e agridoce. Mais que um desafio de harmonização, um prato muito aromático e que, apesar da aparente simplicidade dos ingredientes que acompanham a carne, possui uma elegante complexidade, com um equilíbrio que respeita e realça os diferentes sabores presentes.

Na hora de pensar o vinho para a harmonização, optei pelo caminho da semelhança, ou seja, um que seja aromático, tendo um maior residual de açúcar, para dar conta do agridoce, mas amparada por boa acidez e frescor, que irão se aproximar bastante aos aspectos do prato. Escolhi um vinho branco alemão, chamado Villa Wolf, da uva Gewürztraminer, que se encaixa muito bem nas características pensadas. Vinda de uma região da Alemanha chamada Pfalz, essa expressão da uva produzida pela vinícola Dr. Loosen se encaixou perfeitamente ao prato.

O segundo prato que nos foi apresentado foi um bacalhau em postas confitado em azeite, com azeitonas pretas, tomate cereja, paio português, batatas douradas e alho poró.

Como inovar em algo tão tradicional? Se no primeiro prato o Ouverney Gastronomia foi favorecido pela novidade de uma carne exótica, nesse segundo tiveram o desafio de trabalhar com algo muito conhecido e preparado em diversas cozinhas.

E como já esperava, fui agraciado com uma deliciosa expressão do bacalhau, que mostrou que no mundo da gastronomia, assim como no das artes, a riqueza está nos detalhes.

Coube a mim, escolher vinhos que agregariam ainda mais a essa experiência.

Pensando em um prato tão tradicional de Portugal, inevitavelmente, somos atraídos aos vinhos de mesma origem. Por semelhança, algo com frescor, mineralidade e boa acidez para lidar com o sal do peixe, mas que possua o sabor da fruta presente, para dar conta da untuosidade gerada pelo azeite, algo bastante presente no prato.

Achei interessante destacar duas opções: um vinho tinto e um branco, ambos portugueses. No caso do branco, um vinho da uva Avesso, oriundo da região do Minho, produzido pela vinícola Quinta da Covela. Essa variedade apresentou bem os requisitos que destaquei, harmonizando bem com o prato. Já o tinto, escolhi um da tradicional região do Alentejo, conhecida por ser uma região ensolarada nas épocas de colheita e que costuma produzir vinhos com uvas mais maduras e taninos equilibrados. O escolhido foi o vinho Courela, da vinícola Cortes de Cima, composto pelas uvas Aragonez, Syrah e Touriga Nacional, o qual apresentou perfeita harmonia entre acidez, frescor e corpo, além de notas de frutas vermelhas mais escuras que agregaram, interessantemente, à experiência gastronômica.

Os dois pratos, os vinhos, as harmonizações, tudo isso mostrou muito bem como a atenção aos elementos e aspectos da refeição podem transformar esse momento em algo ainda mais prazeroso. É sempre bom encontrar pessoas que têm essa preocupação, e é exatamente isso que encontramos no Ouverney Gastronomia e na Château Vinhos. Lugares que valem a pena conhecer, pelo profissionalismo e, principalmente, pelos surpreendentes preços.

Deixo então um convite a você: visite ambos e experimente você mesmo essas harmonizações, para confirmar ou não tudo isso que alguém apaixonado por gastronomia acabou de contar.

Santé!

Por Raphael Coelho | instagram @lucasphael

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